A História de Belo Horizonte
- Mallê
- 11 de fev. de 2014
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Há mais de 100 anos, Ouro Preto deixava de ser a capital de Minas Gerais. Nascia então uma nova cidade, inteiramente planejada e construída para ser a capital do Estado. Era Belo Horizonte. No local onde a cidade foi edificada, existia um pequeno arraial, Curral del Rey, que foi quase totalmente demolido. O plano da nova capital, elaborado por uma equipe de engenheiros, arquitetos e outros técnicos previa uma cidade dividida em três áreas: uma área central denominada urbana, em torno desta uma outra denominada suburbana, e uma terceira área chamada rural.
O Surgimento do Curral del Rey
Assim como a maioria das cidades mineiras do período colonial, o arraial do Curral del Rey surgiu seguindo o traçado dos primeiros caminhos abertos. Existem duas versões que explicam o início do povoado na região na qual se encontra hoje Belo Horizonte. Segundo Augusto de Lima Junior, a primeira delas é que em 1709, o capitão da Nau Nossa Senhora da Boa Viagem, Francisco Homem del-Rey, abandonou esta no Rio de Janeiro e, dirigindo-se à região das Minas, requereu em 1716 a permissão para que o vigário de Sabará pudesse celebrar missa em uma capela de pau que erguera nas redondezas de sua moradia. Quando a resposta chegou, ao redor da capela já se encontravam diversas moradias, o que marcava o início do Arraial Curral del Rey.
No entanto, Abílio Barreto, no livro "Belo Horizonte - Memória Histórica e Descritiva", afirma que o responsável pela fundação do arraial foi João Leite da Silva Hortiz em 1701, quando estabeleceu a Fazenda do Cercado nos arredores, onde hoje se localiza o Bairro Calafate. Ainda o mesmo autor afirma que "logo depois de fundada a fazenda do Cercado, foi surgindo o povoado, ao qual os habitantes deram o nome de Curral del Rey, por causa do cercado ou curral ali existente.
O arraial foi crescendo em torno da Fazenda do Cercado, tornando-se, provavelmente em 1718, uma Freguesia subordinada da comarca de Sabará. A partir daí, verifica-se uma ocupação de toda a região com diversas fazendas destinadas à criação e venda de gado e agricultura, além da fabricação de farinha. O núcleo urbano de arraial tinha, em 1823, uma população de 1339 habitantes.
A capela primitiva erguida nos primeiros tempos da colonização já não comportava mais a população do arraial, devido às suas pequenas dimensões. Ela foi então substituída por uma edificação maior, com a mesma invocação de Nossa Senhora da Boa Viagem. A sua construção durou cerca de cinco anos, entre os anos de 1788 e 1792.
Fonte: Blog Curral del Rey, de Alessandro Borsagli
O Arraial de Belo Horizonte e a escolha para sede da nova Capital
Com a proclamação da república em 1889, os habitantes do Curral del Rey passaram a discutir a mudança do nome do arraial. Após várias reuniões realizadas, resolve-se adotar, com o aval do então governador João Pinheiro da Silva, o nome de Belo Horizonte, pois acreditava que o antigo nome era um atestado de atraso, fato inaceitável para a jovem nação republicana.
Juntamente com a República, veio à tona novamente a questão da mudança da Capital. Ouro Preto não apresentava alternativas para o desenvolvimento urbano e para a implantação de melhorias sanitárias, pois a topografia não favorecia tal desenvolvimento, além de já existir um movimento, mesmo que embrionário para a conservação de seus sítio urbano. A nova Capital seria inovadora, com largas ruas e com as condições necessárias para se realizar um saneamento adequado, propiciando um modo de vida compatível com as ideias vigentes da época. Os edifícios seriam modernos, negando o que se via em Ouro Preto, a arquitetura colonial portuguesa, símbolo do atraso para os entusiastas da nascente República.
As localidades escolhidas pelo Congresso Mineiro após acaloradas discussões foram Juíz de Fora, Várzea do Marçal (São João del Rei), Barbacena, Paraúna e Belo Horizonte. Foi contratado para chefiar os estudos das localidades e posteriormente implantar os aparatos necessários para a construção da capital, o engenheiro geográfico e civil Aarão Reis, natural do Pará.
Após a realização dos estudos nas cinco localidades indicadas, Aarão Reis aponta em seu relatório enviado para o Congresso Mineiro as vantagens e desvantagens de cada uma, sobressaindo-se entre as localidades estudadas, Belo Horizonte e Várzea do Marçal, sendo esta última escolhida para sediar a nova capital. Mas após meses de debates, o Congresso, reunido em Barbacena para fugir das pressões contrárias às mudanças da Capital em Ouro Preto, decide que o arraial de Belo Horizonte é o ideal para a sede da nova Capital.
Fonte: Blog Curral del Rey, de Alessandro Borsagli
A Nova Capital Mineira
A nova capital foi inaugurada em 12 de dezembro de 1897, mesmo estando ainda em obras e com seu plano apenas parcialmente implementado.
Hoje, muitos espaços planejados e edifícios construídos na época de origem da cidade ainda estão preservados. A Praça da Liberdade com suas secretarias e o palácio, o Parque Municipal Américo Renné e a Praça da Estação são alguns exemplos.
Pelo plano da nova cidade, a Avenida Afonso Pena seria a via mais importante da cidade, como de fato se tornou.
E a avenida que contornava toda a área urbana planejada, chamada por isto de Avenida do Contorno, também permanece até hoje. A paisagem destes lugares mudou, mas eles ainda existem na cidade, com grande importância.
Nos seus primeiros anos, a cidade era cortada por algumas linhas de bondes e pelos córregos naturais. Os bondes já não existem e a maioria dos córregos não está mais visível, pois foram canalizados.
A ligação de BH com as outras cidades e outros Estados se fazia pela estrada de ferro, que hoje não é a via de acesso mais comum.
A população de Belo Horizonte era formada pelos antigos habitantes do arraial, por funcionários públicos que vieram de Ouro Preto e por trabalhadores e imigrantes estrangeiros que foram empregados na construção da cidade, no comércio ou nas colônias agrícolas que foram criadas em torno da área urbana.
A cidade de Belo Horizonte cresceu, e seu crescimento foi marcado pelo planejamento inicial. A área urbana, dentro dos limites da Avenida do Contorno, recebeu ao longo do tempo mais infraestrutura, como por exemplo nos transportes coletivos e no fornecimento de serviços como água, luz e esgoto. Ali se concentrou a maior parte dos serviços e das atividades como comércio, hospitais e escolas.
Já a área fora dos limites da Avenida do Contorno cresceu de forma mais desorganizada, não recebendo a mesma infraestrutura. Os bairros surgiram mesmo sem esses serviços. A desigualdade social fez aparecer vilas e favelas nos arredores desses bairros, mas também próximas aos bairros dentro da área central.
Hoje ainda é possível enxergar diferenças entre a parte da cidade que foi planejada e aquela que cresceu de forma mais espontãnea e desorganizada. Um exemplo é a disposição das ruas. Dentro da Avenida do Contorno, se observarmos em um mapa, as ruas formam um desenho quadriculado e exato. As avenidas são mais largas e muitos cruzamentos formam praças, como a Praça Sete e a Praça Raul Soares. Fora da Contorno, elas formam um desenho bem menos organizado, com ruas mais estreitas e cheias de curvas, acompanhando o relevo natural.
A partir das décadas de 1940 e 1950, o crescimento de Belo Horizonte teve um impulso cada vez maior, devido à expansão das indústrias. A área central da cidade continuava concentrando os principais serviços, como comércio e bancos. Como ela já estava quase toda ocupada e não havia mais terrenos livres para a construção, teve início a expansão para cima.
Surgiram os primeiros arranha-céus. Ônibus e automóveis tornaram-se os meios de transporte mais comuns. Eles trafegavam também em direção aos novos bairros, pelas avenidas Antônio Carlos, Pedro II e Amazonas, construída nesse período. A construção da lagoa e dos edifícios modernistas da Pampulha é um marco daquela época.
Nas décadas de 1960 e 1970, a cidade continuou seu crescimento, com o surgimento de muitos bairros. O centro já estava repleto de grandes edifícios, que passaram a surgir também nos bairros vizinhos. No entanto, permanecia a diferença social entre a área central, com mais infraestrutura, e a rede de bairros que se expandia na periferia, com pouco ou nenhum serviço urbano.
Com a expansão urbana, áreas mais afastadas do centro de Belo Horizonte se transformaram. Barreiro e Venda Nova são exemplos de regiões que tinham um ritmo lento de crescimento e que passaram a ter uma vida mais dinâmica com o avanço da metrópole. Essa crescente ampliação dos espaços ocupados atingiu também municípios vizinhos a Belo Horizonte, ultrapassando e desmanchando divisas, especialmente nas direções norte e oeste, como aconteceu com Betim, Contagem e Santa Luzia.
A partir daquelas décadas e nos anos seguintes, as diferentes regiões da cidade, cada vez mais distantes do centro, tornaram-se menos dependentes da área central. Surgiram núcleos de comércios e de convivência nos bairros, desde a Savassi até o Barreiro e Venda Nova. Muitos outros centros regionais surgiram em torno das grandes ruas e avenidas ou no interior dos bairros, e continuam surgindo até hoje.
Fonte: Portal PBH