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As Lendas de Capelinha

  • Mallê
  • 15 de jul. de 2014
  • 4 min de leitura

Minas Gerais é o lugar de coisas que não existem em nenhuma outra parte do mundo! Do sotaque à culinária, das paisagens aos costumes. Dentre tantas particularidades, a cultura popular é inegavelmente uma característica marcante.

Cá no interior, ainda existe a tradição de encontros em noites de lua cheia, ao som da moda de viola. Tradições repassadas de pai para filho, atravessando o tempo, eternizando momentos e memórias por várias gerações.

Aos pés da fogueira, no escuro da noite de céu limpo, sem a poluição de cidade grande, começam os causos e lendas. A oralidade é de valor imensurável, uma vez que mesmo sem registros, consegue manter viva a história de nosso povo e antepassados.

Fogueira e causos no interior (Foto: Arquivo Pessoal Mallê)

Capelinha, como tantas cidades mineiras, tem lendas que arrepiam a alma! Reunidas aqui, as mais conhecidas!


A Lenda da Mulher Gigante

Conta-se que, há muitos anos, em uma noite, a lua iluminava as desertas ruas de Capelinha, quando uma viúva andava com suas três filhas, voltando de uma visita a um doente. Já passava da meia-noite. Iam em direção à sua casa, que ficava na Rua Dr. Juscelino Barbosa, onde é hoje o Salão Paroquial da cidade.

Andavam apressadas, pois já era muito tarde.

A noite estava fria e muitas corujas piavam pelas bandas da várzea, que é como se chamava a Rua Governador Valadares. As mulheres andavam juntas umas às outras e, no meio da noite, ouvia-se o "toc, toc, toc" dos seus sapatos de encontro às pedras do caminho.

Estavam já próximas à casa onde moravam. Passavam agora diante de uma rua bem estreita e sombreada pelas árvores que se balançavam ao sopro gelado do vento. Ao lado, ficava uma casa muito antiga, hoje reconstruída.

A noite ia alta. De repente, a viúva e suas filhas ouviram um forte ruído: chep... chep...chep... Que barulho seria aquele??

Próximo à casa antiga, estava o vulto de uma mulher enorme, de aproximadamente três metros de altura! Saia até os pés, lenço branco na cabeça e braços cruzados sobre o peito. Andava vagarosamente. Tomou a direção do beco e agora passava pelas árvores.

As mulheres, pasmadas pelo medo, perderam a voz. Agarravam-se umas às outras, com espanto e, trêmulas, apontavam para o vulto que desaparecia na imensidão da noite.

Hoje, pergunta-se de onde teria saído aquela Mulher Gigante, que vagava pela noite a dentro e enchera de terror a viúva e as filhas...

A "Lenda da Mulher Gigante", retratada pela Escola Estadual Professora Geralda Otoni Barbosa, durante desfile de Sete de Setembro, na cidade de Capelinha em 2013.

Lenda da Catacumba

Há muitos anos atrás, mesmo antes de Capelinha se emancipar, aqui morava um homem muito mau que maltratava a todos, era arrogante, e mandava matar as pessoas. Os rumores eram de que sua riqueza era originária de um pacto com o diabo.

Ele era um homem possessivo e autoritário, que não permitia que sua família saísse às ruas. Contratava professores particulares que ministravam aulas para suas filhas em sua própria casa. Segundo moradores, incluindo os mais idosos, ninguém lembra o nome desse senhor, pois tais fatos aconteceram há muito tempo.

Quando ele faleceu, ninguém foi ao velório, pois ele não tinha amigos; apenas sua família estava presente, além de alguns curiosos que lá foram, não para rezar por sua alma, mas para ver sua esposa e filhas. Tentar fazer amizade, já que enquanto viveu, o misterioso senhor não permitia a aproximação da família com pessoas.

Dizem que ele nunca ia à igreja, não se importava muito com a própria vida ou saúde. Só queria saber de adquirir posses e dinheiro. Afirma-se que possuía várias mulheres (garotas de programa que arrebanhava em suas viagens de negócio). Era um forasteiro que, logo que foi fundada Capelinha, veio morar aqui.

Logo depois do seu falecimento, sua esposa e filhas foram embora de Capelinha, já que o tirano as privava de liberdade, o que as impediu de criar qualquer laço.

Dizem ainda que, alguns anos depois, quando o padre Domingos era o pároco, do túmulo desse homem começou a sair cabelo, e as bordas da sepultura começaram a trincar. Alguns acreditam que isso ocorreu porque a alma do morto não conseguia se libertar do corpo e, em sua revolta, provocara as rachaduras na catacumba.

Então o padre benzeu aquela sepultura e determinou que fossem colocadas correntes em volta da mesma. Somente após tal providência, não mais se verificou o aparecimento de trincas na sepultura. Não é mais possível identificar o nome do morto nem a data em que ele faleceu. Supõe-se que tenha sido condenado ao esquecimento, dado o isolamento que impôs à sua família.


A Praga do Padre

Em frente à capela do Bairro Piedade, encontra-se um cruzeiro, que faz parte de uma lenda muito popular na cidade. Além deste, existem outros cruzeiros espalhados: um no Bairro Água Santa (a poucos metros do Estádio Newton Ribeiro), um na entrada do Bairro das Acácias (próximo à Escola Estadual Professora Geralda Otoni Barbosa), e haviam outros dois que já foram removidos (no Bairro Buracão e no alto da Rua Governador Valadares).

Há muitos anos, um padre foi expulso da cidade, e este rogou uma praga de que Capelinha afundaria, sendo soterrada, e todos os cruzeiros se encontrariam no meio, por cima do que fora, um dia, a cidade.

Além disto, quando se concretizasse a catástrofe, o homem da catacumba voltaria para se vangloriar de seus desafetos!

Para acabar com a praga do padre, a população retirou um pequeno talho de cada cruzeiro e pregou nos outros, dando a entender que estes já haviam se encontrado, e desta forma, a cidade não desapareceria!

Cruzeiro em frente à Capela Piedade

Todas as lendas aqui descritas possuem variações.

Fonte: Setor de Patrimônio Cultural de Capelinha

 
 
 

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