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A Cidadezinha Onde Eu Nasci...

  • Mallê
  • 1 de jul. de 2014
  • 4 min de leitura

Lá no interior de Minas existe uma cidade de nome pequenininho. Berço da minha infância, da infância de meu pai, e do meu filho também. Primeiro passo, primeiro olhar. Ponto de partida rumo ao resto do mundo. De tudo o que vivi, guardei na mala cada aprendizado, no peito cada lembrança, e coloquei os pés na estrada. Antes de qualquer outro destino, apresento a vocês minha primeira "Minas Gerais".

Sejam bem vindos a Capelinha!

Vista da cidade, a partir do anel rodoviário, próximo ao aeroporto.

Devagarzinho, nasce uma nova manhã. A madrugada é gris, e tudo está envolto pela neblina. Os dias aqui amanhecem tímidos. Nos demoramos na cama um pouco mais, até que a coragem de levantar seja mais forte. Faz um friozinho aconchegante, e o cheiro de café no fogão já nos alcança.

O sol aparece vez ou outra por entre as nuvens. Ainda faz frio, mas agora, há mais cor. A mesa começa a mostrar a fartura da culinária, o carinho com que tudo foi preparado. Um aroma indescritível. Um sabor inesquecível. Quem preparou os quitutes olha vibrante, aguardando nossa aprovação. Os olhos até brilham!

Não precisamos ir muito longe para entender porque ninguém aqui se mudaria para a cidade grande... Com tanta delicadeza sem sair do lugar, já se imagina o que há por vir.

Flor de coentro
Flor de Carambola
Tomatinho Cereja
Flor Silvestre
Pimenteira

O nome da cidade remete à imagem de um pequeno vilarejo, com uma singela igrejinha, e um par de vaquinhas pastando ao redor. Em um passado não muito distante, talvez de fato fosse assim. Hoje, embora ainda pequena, Capelinha já sente os efeitos do progresso. Prédios antigos que dão lugar às construções modernas, crescimento vertical.

Na parte mais alta da cidade, existe um bairro bastante conhecido. É um pouco mas novo do que outros, mais centrais. Casas muito bonitas, regadas a boa dose de luxo. Entre as casas grandes, segue uma longa avenida, com palmeiras dividindo duas vias. É inverno. Ainda aparece tudo muito nublado. Logo mais, virão as festividades tradicionais da cidade. Enquanto isso, algumas já acontecem.

Avenida Joaquim Alves Vieira, a principal do Bairro das Acácias

No meio da avenida está a pracinha da Igreja de Santo Antônio das Areias. Espaço que recebe anualmente pequenas festividades da igreja, e, a pouco, as festas juninas.

Pracinha do Bairro das Acácias
Igreja de Santo Antônio das Areias

Capelinha está a 900 metros de altitude; o vento é forte e constante. Fugindo do frio (e de uma possível dor de ouvido), voltamos para casa, em tempo para o almoço.

Em um mesmo lugar, existem diferenças muito marcantes nos costumes de cada um, e na culinária. O prato do dia é bastante comum para mim, desde a minha infância. Ainda assim, não arrisco dizer que este é típico da culinária local. Talvez seja, para as pessoas mais velhas. Chamamos de "arroz mole".

O Arroz Mole trata-se de um arroz temperado, cozido com pedaços de carne, cenoura, chuchu, podendo levar outros tipos de legumes e verduras, além de tempero verde. O acompanhamento varia. Aqui, filés de traíra sem espinho empanados e fritos, salada de tomate, batata doce frita, e pirão de peixe (caldo de peixe com farinha de mandioca).

"Arroz Mole", acompanhado com filé de traíra empanado e frito, batata doce frita, salada de tomate, e pirão de peixe)

Conversamos sobre alguns passeios que gostaríamos de fazer na cidade. Existem muitos detalhes em Capelinha que certamente serão citados por todos aqueles que você perguntar o que há para conhecer.

A feira livre é um exemplo, que encanta os visitantes. Faça chuva ou faça sol, sábado de manhã tem feira! No Mercado Municipal e arredores, há uma intensa movimentação, desde muito cedinho, antes mesmo de clarear. Ônibus chegam trazendo produtores rurais e suas mercadorias, que logo mais serão expostas e vendidas. Esculturas em barro e madeira, artesanato com palha, verduras, legumes, frutas, doces e quitandas caseiros, mel, cachaça, rapadura, ovos e galinhas, fumo, pastel... As mais diversas iguarias!

O cheiro é bastante peculiar. As pessoas falam alto. Amigos se encontram. Turistas fotografam. Sacolas de feira cheias. Ali bem perto, bares bastante conhecidos na região. Uma moda de viola começa em algum lugar...

Artesanato típico da região do Vale do Jequitinhonha, em barro.

Logo que termina a feira, todos partem. A zona rural de Capelinha é bem maior e mais populosa que a urbana. Muitos deles dedicam suas vidas ao plantio e coleita de café.

Durante décadas, esta foi a "Cidade do Café". Hoje, o eucalipto domina tanto quanto, colocando Capelinha como importante parte da maior área plantada de eucalipto do mundo!

Uma grande empresa da cidade, responsável pela produção e comércio de café, abre suas portas para que conheçamos um pouco mais sobre todo o processo. Numa das fazendas, há uma grande plantação. Já é quase final de colheita. Os frutos que ainda restam nos pés já estão bastante maduros. Quando bem vermelhinhos, têm sabor adocicado. Na torrefação, é possível ver desde a secagem dos grão ao sol, até a limpeza, torra, moagem e empacotamento, bem como o carregamento dos caminhões para transporte e distribuição do produto final.

Café: frutos maduros no pé

A poucos metros dali, chegamos até a imensidão de eucaliptos. Formam muros verdes e altos, por estradas de chão vermelho a perder de vista. O vento suave que passa por entre o bosque denso trás boas memórias. Quando pequena, era ali que meu pai me levava para aprender a andar de bicicleta. Revivo meu passado, nos presentes passos de meu filho.

Maior área plantada de eucalipto do mundo.

Existiu, um dia, a festa do café. Com desfiles e exposições, celebravam o sucesso da colheita, agradeciam pelos lucros e pelos bons frutos. Era parte de um outro evento que sobrevive ainda hoje, quase 30 anos depois da primeira edição: o Capelinhense Ausente. No mês de julho de todo ano, Capelinha é palco de uma das maiores festas da região, conhecida nacional e internacionalmente.

Época de férias escolares, a cidade está cheia outra vez. Seus filhos retornam à terra amada para rever família e amigos. O Parque de Exposições abre as portas para que todos comemorem este momento juntos. Uma semana de festa com comidas típicas, parque de diversões, shows com artistas da cidade, e outras bandas consagradas do Brasil.

Parque de Exposições
Shows do Capelinhense Ausente

Aos fundos do Parque de Exposições, existe um acesso para uma área fechada que pertence à Praça de Esportes da cidade. Aqui acontece o Galpão Cultural, que é também um dos momentos do Capelinhense Ausente. As paredes e a grande quantidade de pessoas tornam mais fácil suportar o frio. Restaurante com pratos deliciosos! No palco, artistas da própria cidade se apresentam. E logo ao lado, artesãos expõem trabalhos feitos com talento e dedicação. É mais um lugar que me trás lembranças. Por muitas vezes subi no palco e cantei, como aprendi com meu avô, no meu berço musical.

De mala nas mãos, deixei a cidade e fui morar na Capital. Cada foto é uma memória. Espero ter dado motivos para que visitem minha terra...


Boa viagem!


 
 
 

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