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Eu Vejo No Céu...

  • Mallê
  • 4 de mar. de 2014
  • 2 min de leitura

Toda escolha tem por reflexo no espelho uma renúncia. Deixei todas as pessoas que conhecia, as ruas cujo trajeto meus pés já haviam decorado. Escolhi o novo! A experiência de sair da zona de conforto é única. Andar com as próprias pernas, ser conhecido por seu próprio nome.

Fato é que por mais certo que esteja de suas escolhas, haverá um dia ou outro em que você se questionará sobre as renúncias feitas. Haverá dúvida, saudade. Talvez você chore. E é exatamente o que faz tudo valer a pena.

Há dias em que sinto muita saudade de coisas que não vivi. Do primeiro dia de aula do meu filho... Dos presentes do dia das mães que nunca recebi no dia certo, sempre guardados, esperando ansiosamente por um reencontro para que fossem entregues em minhas mãos, pessoalmente.

Chega um momento em que as fotos já não aliviam tanto, pois são passado. Tudo o que você mais quer é um instante presente. Com a distância, é preciso inventar formas de fazê-lo.

No livro "Cartas e Amor", Rubem Alves começa descrevendo um quadro que ele definiu como 'uma das telas mais delicadas que conheço': Mulher Lendo Uma Carta, de Johannes Vermeer (1632-1675).

"[...] Uma mulher, de pé, lê uma carta. O seu rosto está iluminado pela luz da janela. Seus olhos leem o que está escrito naquela folha de papel que suas mãos seguram, a boca entreaberta, quase num sorriso. De tão absorta, ela nem se dá conta da cadeira, ao seu lado. Lê de pé. Penso ser capaz de reconstituir os momentos que antecederam este que o pintor fixou. Pancadas na porta interromperam as rotinas domésticas que a ocupavam. Ela vai abrir e lá estava o carteiro, com uma carta na mão. Pela simples leitura do seu nome, no envelope, ela identifica o remetente. Ela toma a carta e, com este gesto, toca uma mão muito distante. Para isto se escrevem as cartas de amor. Não para dar notícias, não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel. [...]".

Não escrevo cartas. Meu filho ainda não sabe ler. Mas nos encontramos ao observarmos a mesma coisa: nosso olhar se encontra quando, em cidades diferentes, observamos o céu, que é um só. Extensão do meu amor que viaja sobre nuvens e entre estrelas, até os olhinhos do meu pequeno.

Assim como nossa inconstante condição humana, dia bem, dia mal, acima de nós, oscila o céu. Em seus tons, sons, nuvens e suas formas, arco e suas cores, chuva chorando dores, noite e suas fases, dias, raios solares.

Eu vejo no céu o encontro de dois olhares, e o infinito de dois amores...

"Eu te amo da barriga do elefante gordo..."

 
 
 

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